Dinheiro em espécie está em terceiro lugar na preferência dos latinos para pagamentos em lojas físicas, segundo a Visa

Só no mês de dezembro, 37 milhões de transações foram realizadas com pagamento por aproximação no Brasil, ao passo que 20% dos consumidores latinos já usam carteiras digitais em lojas físicas e 25% estão dispostos a experimentar criptomoedas.

Se a pandemia de COVID-19 impulsionou 52 milhões de consumidores latino-americanos a comprar online pela primeira vez, os pagamentos digitais também não ficaram atrás. É o que aponta a terceira rodada do Visa COVID-19 Consumer Sentiment, estudo sobre as preferências dos consumidores durante a pandemia na América Latina e no Caribe. O estudo qualitativo foi realizado com 400 participantes na Argentina, BrasilChileColômbiaMéxico, Peru e República Dominicana, em novembro de 2020.

“Todo mundo se viu em um ambiente digital, então isso também levou aos pagamentos digitais. Na América Latina, onde as pessoas sempre usaram mais o dinheiro, o primeiro pico da tendência, que identificamos em março, se confirmou até o fim do ano: a busca por pagamentos digitais,” afirma Roberta Isfer, Diretora de Inovação da Visa para a América Latina e Caribe, em entrevista ao LABS.

Roberta Isfer, Diretora de Inovação da Visa para a América Latina e Caribe. Foto: Divulgação/Visa

Segundo Isfer, só no mês de dezembro de 2020, 37 milhões de transações foram realizadas com pagamento por aproximação no Brasil. A executiva conta que, ao longo do ano passado, o salto nesse tipo de pagamento, em toda a América Latina, foi expressivo. “Na última rodada [da pesquisa], 48% dos entrevistados disseram ter usado pagamento por aproximação em lojas físicas, em pelo menos uma de suas dez últimas compras. Na primeira pesquisa, em março, esse percentual foi de 23%.”

A penetração dos pagamentos por aproximação na região também cresceu, e em novembro de 2020, ultrapassou a marca de 15%, um crescimento de 130% na comparação com novembro de 2019. 

Para Isfer, esses números apontam na direção de um novo perfil: o de um consumidor que compra em qualquer lugar e a qualquer momento, sobretudo se há opções de pagamento por aproximação disponíveis. “Algumas tendências que surgiram em março, no fim do ano já tinhamos mais clareza: isso veio para ficar,” comenta, reiterando o crescimento dos pagamentos digitais entre os latino-americanos.

De acordo com a pesquisa, o consumo também acompanhou esse crescimento: 66% dos consumidores disseram ter gasto o mesmo ou mais nos últimos três meses. Em julho de 2020, esse percentual era de 49%. Além de aumento nos gastos, os latino-americanos têm preferido usar cartão a dinheiro: 74% dos consumidores disseram usar cartão de débito, enquanto 53% usam dinheiro. “Nos pagamentos em lojas físicas, dinheiro já vem em terceiro lugar na América Latina. Crédito e débito estão lá na frente,” comenta a executiva.

O que também chamou atenção, segundo Isfer, foi a tendência descendente do dinheiro, ao passo que novos pagamentos, como transferências P2P (pessoa-para-pessoa) e carteiras digitais, seguiram em alta. “O crescimento do débito foi bem interessante de observar também. Na cabeça do consumidor, o débito substitui o pagamento em dinheiro porque sai automático. É o que tenho hoje e o que eu quero pagar hoje.”

Junto com os pagamentos por aproximação, as carteiras digitais também vêm atraindo os consumidores da região, inclusive para pagamentos em lojas físicas. Segundo o estudo da Visa, 20% dos consumidores dizem usar carteiras digitais nesses pontos de venda.  

Em cifras, os meios eletrônicos de pagamento devem movimentar até R$ 2,4 trilhões durante o ano de 2021 no Brasil, segundo dados da Abecs. “Quando olhamos no comparativo de 2010 a 2020, saímos de uma indústria que movimentou R$ 498 bilhões para R$ 2 trilhões em 2020. Ou seja, é uma indústria que cresceu dois dígitos por ano ao longo de uma década. E vemos um crescimento entre 18% a 20% somente no período entre 2020 e 2021”, compara Pedro Coutinho, presidente da associação.

Não é só no Brasil, no entanto, que os pagamentos digitais apresentam franco crescimento.”Mesmo em países como Argentina, o uso de carteira digital cresceu. O México, país conhecido por forte uso do dinheiro físico, também está cada vez mais acostumado com esse tipo de pagamento.” Para Isfer, o que fomenta a escolha por esses pagamentos é a conectividade da região. “A população latino-americana é munida de telefone e uma das mais conectadas do mundo. O universo de smartphones no mexico é de 90% da população que tem telefone – que são 123 milhões de usuarios. As pessoas estão munidas, elas usarem carteira digital é questão de tempo e hábito”. 

No Uruguai, segundo menor país da América do Sul, o ano de 2020 marcou a primeira vez em que os pagamentos eletrônicos, como cartões de débito, crédito, transferências e pagamentos por app, superaram os pagamentos com dinheiro e cheque.

IPET, índice calculado pelo Banco Central do Uruguai que compara o valor dos pagamentos eletrônicos com os meios de pagamento tradicionais, passou de 50 no final de 2019 para 61 no final de 2020. Divulgado pelo órgão em seu Relatório do Sistema de Pagamentos de Varejo na semana passada, o resultado inédito significa que de cada 100 pesos uruguaios pagos, 61 foram via transações eletrônicas, enquanto que 39 foram pagos com meios tradicionais. No final de 2019, essa proporção era equilibrada: $U 50 provinham de pagamentos eletrônicos, e os outros $U 50, de meios de pagamento tradicionais, como dinheiro e cheque.

Já no ambiente online, o estudo da Visa também aponta que o interesse por e-commerce segue em alta. Quase metade dos consumidores latinos afirmaram ter comprado pela internet pelo menos uma vez por mês, ao passo que 71% planejavam manter a atual frequência de compras online. Além do aumento no uso de cartões de crédito e débito, as carteiras digitais, mais uma vez, aparecem: 26% dos consumidores dizem ter usado o método nas compras pela internet, já que as consideram o meio mais seguro para pagar online. 

Para Isfer, a pandemia também impulsionou outra tendência: a digitalização dos pequenos negócios. “O consumidor diz que tem se preocupado com a comunidade, em como ajudar o pequeno comércio. Esse senso de comunidade passou a estar mais presente, o que levou a uma forte tendência: pequenos comerciantes encontrando novas maneiras de estar no universo do consumidor digital, principalmente via marketplaces”.

Criptomoedas já atraem 25% dos latino-americanos

Nem só de cartões de crédito, débito, carteiras digitais e pagamentos por aproximação vivem os latinos. A demanda por novas tecnologias de pagamento segue crescendo e 78% dos consumidores entrevistados pela Visa já esperam inovações como compras em redes sociais, pagamentos via aplicativo de mensagem e criptomoedas.

Segundo a Diretora de Inovação da empresa, o consumidor latino vem experimentando outras maneiras de usar plataformas como InstagramFacebook e WhatsApp, pedindo por inovações como completar compras nesses canais sem precisar migrar para outros. “Na terceira rodada [da pesquisa], esse pedido de plataformas de mensagem apareceu de novo: 58% dizendo ‘sim, gostaria de efetuar o pagamento usando o mesmo canal’”.

Já em relação às criptomoedas, enquanto o uso global desse método avança, em paralelo a maiores esforços de legisladores para regulamentar e propor uma nova geração de moeda digital em 2021, a Visa acredita que, a nível mundial, essa é uma tendência que poderá se tornar um dos métodos preferidos dos consumidores para pagar por suas compras.

“Não necessariamente todo mundo [na América Latina] está usando criptomoedas, mas a mentalidade que existia há alguns anos atrás, que era de investimento em cripto, hoje já é outra: ‘eu gostaria de fazer um pagamento em cripto, na moeda digital’. É algo que vai continuar na pauta. O consumidor está pedindo, é o nosso papel como indústria entregar”, Isfer pontua. Segundo o estudo da Visa, 25% dos latino-americanos já dizem estar dispostos a experimentar criptomoedas para pagamentos quando elas estiverem disponíveis.

Globalmente, a Visa conta com 35 criptoplataformas que escolheram emitir com a adquirente. No Brasil, parcerias com empresas como a conta digital de criptomoedas Alter e o banco digital multimoedas Zro Bank vêm dando tração à operação da Visa: as duas instituições têm programas de cashback em bitcoins para compras no seus cartões de bandeira Visa. Já a corretora argentina Ripio vem trabalhando em um modelo de carteira digital com cartão de débito Visa, para acessar, em reais, o saldo que foi convertido em criptomoedas.

FONTE: Labs News

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