Estudo inédito: qual o perfil das startups que atuam com governo no país…

Letícia Piccolotto

26/09/2020 04h00

Brasil já é uma liderança govtech na América Latina, mas podemos ir muito além (You X Ventures/ Unsplash)

O Brasil é govtech. Isso é o que mostra o relatório lançado ontem, 25 de setembro, pelo BrazilLAB e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) – [você pode acessar o relatório completo aqui]. “As Startups GovTech e o Futuro do Governo no Brasil” traz uma radiografia inédita do ecossistema govtech no Brasil, abordando temas como distribuição regional, perfil das empresas, focos de atuação, maturidade, modelos de negócios, bem como desafios e oportunidades para um maior estímulo à adoção de soluções  tecnológicas desenvolvidas por startups pelos governos.

Se você acompanha o blog há pouco tempo –ou é sua primeira vez por aqui– talvez possa não entender o termo “govtech”. No Brasil, ele é relativamente recente, mas nomeia um movimento que tem crescido em tamanho e importância: mesclando “governo” e “tecnologia”, govtech dá nome às startups que buscam construir soluções tecnológicas para ajudar a enfrentar os desafios do setor público.

Atualmente, em todo o país, são 80 startups govtechs consideradas como mais relevantes, ou seja, aquelas que vendem de maneira consistente para governos ou atuam em parcerias com o setor público de forma recorrente.

Mas o relatório aponta que esse é um mercado subaproveitado: do total de startups existentes no Brasil, até 1.500 teriam potencial para atuação no mercado “business to government” (B2G) caso desejassem ofertar suas soluções tecnológicas para os governos. 

Outra pesquisa reforça esse cenário: segundo o “GovTech Index”, publicação da CAF, o Brasil é o país com o maior número de startups vendendo para governo na América Latina. Tudo isso aponta para o fato de que sim, o movimento das govtechs é recente, mas ele tem se consolidado de forma muito rápida e promissora. Será preciso, agora, estimular o que já está dando certo, especialmente, garantindo investimentos e uma legislação mais aberta à inovação.

Compartilho alguns destaques sobre a pesquisa.

Investimentos

Dentre os principais gargalos ao crescimento do ecossistema govtech, o financiamento ocupa lugar de destaque: não há um único fundo de investimento para apoiar a atuação das startups, seja ele privado ou até mesmo público. 

Essa baixa propensão dos investidores traz resultados concretos: 90% das startups que atuam com o setor público iniciaram sua operação com recursos próprios do sócio-fundador.

Além disso, os valores de investimentos para início da operação podem ser considerados modestos, já que dentre as 135 startups entrevistadas para o estudo, 38% delas começaram com uma verba de R$ 100 a R$ 200 mil. 

A baixa participação de investimentos contrasta com as perspectivas de ganhos: somente o Governo Federal empenhou ao longo de 2018 mais de R$ 4,4 bilhões em gastos com tecnologia de informação, incluindo equipamentos e serviços.

Há estimativas de que o mercado govtech possa representar US$ 1 trilhão até 2025 no mundo todo. Assim, nos próximos anos, será muito importante alterar a mentalidade de empreendedores e investidores, mostrando que esse é um mercado de alto potencial de retorno econômico, além do evidente impacto social dessas empresas.  

Foco de atuação e modelo de negócios

A maior parte das govtechs brasileiras tem como foco de atuação três temáticas: gestão (28%), educação (17%) e saúde (11%).

Mas a pesquisa também evidencia que o foco de atuação é tão diverso quanto a complexidade dos problemas enfrentados pelo setor público, por exemplo, segurança (correspondendo a 8% do total de startups) mobilidade e meio ambiente (7%), saneamento (2%) e habitação (4%).

Também foi possível constatar os principais modelos de negócios dessas govtechs. A maior parte delas está focada na oferta de “softwares como serviços” (SaaS), correspondendo a 53% do total de startups pesquisadas.

As focadas em mercado representam 7%, comércio eletrônico e vendas de dados representam 6%, assim como hardware, consumidor e licença que são apenas 2% respectivamente. Outros modelos de negócios correspondem a 22% das startups.

Maturidade

O relatório também traz destaques sobre a maturidade das govtechs brasileiras.

Quando falamos de “maturidade”, queremos analisar o nível de desenvolvimento da empresa. Em geral, uma empresa pode se encaixar em quatro fases progressivas:

  • ideação, quando há o planejamento do produto ou serviço que se quer oferecer;
  • operação, correspondendo à implementação;
  • tração, que ocorre quando a empresa experimenta um crescimento e;
  • escala (ou scale-up), quando o processo de crescimento se dá de maneira sustentada. 

A excelente notícia é que a maior parte das govtechs brasileiras se encontra nas duas fases mais avançadas de desenvolvimento do negócio: tração (32%) e operação (27%).

Há um número menor de startups nos dois extremos do desenvolvimento, já que 13% estão na etapa de ideação e 11% em escala (scale-up), enquanto 17% não informaram em qual estágio se encontram. 

Por fim, a pesquisa também destaca o papel das aceleradoras de startups como atores fundamentais para apoiar o desenvolvimento de soluções govtechs e também promover a conexão entre o ecossistema empreendedor e o setor público.

Nesse quesito, o Brasil também precisa avançar. Embora haja muitas aceleradoras dedicadas a fortalecer iniciativas de impacto social, o BrazilLAB é a única aceleradora do país dedicada à agenda govtech. 

Um futuro promissor 

Esse panorama inédito das startups govtech aponta para como esse ecossistema tem amadurecido e qual o seu potencial para contribuir com a transformação digital dos governos no Brasil.

Há ainda desafios a serem superados, principalmente na disponibilidade de investimentos e na construção de uma legislação que estimule a inovação, mas os resultados já são animadores e apontam para um futuro promissor no qual o Brasil é uma referência internacional no mercado govtech. Todos –sociedade, empreendedores e governos– temos a ganhar.

FONTE: GVTech UOL

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